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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Conto II

Estava entre os últimos. Não tinha forças para mais nada. Não sentia meu corpo, meus braços, minhas mãos, minhas pernas e meus pés. Não conseguia raciocinar como antes, pois nada fazia sentido para mim. Avistava, no que eu podia, pessoas em volta de mim. Um pouco distantes mas por que eu realmente não conseguia levantar minha cabeça para ter uma visão mais ampla do que estava acontecendo. Só sei dizer que a sensação era a pior de todas. Imóvel, sem reflexo para nada, a não ser para o teto, e para a lâmpada. Mais nada.

Depois de um certo tempo, eu queria sair dali. Já não aguentava mais ficar parado sem se mover. E principalmente estava aflito pois não sabia o por que da imobilidade e de não sentir nada. O médico chegou ao meu quarto e perguntei o que acontecia comigo. Ele simplesmente levantou minha cabeça de acordo com a cama. Me perguntou se estava melhor, e que tudo ia ser resolvido. Mas não era isso o que eu queria saber. Pelo menos enxergava coisas a mais. A partir disso comecei a observar ao meu redor. A enfermeira indo ao meu encontro para ver como eu me sentia. Se sentia alguma dor ou algo do tipo. Pessoas passando pelo corredor me olhando como se eu fosse algum anormal [pra dizer a verdade, alguém que não conseguia se levantar... é... acreditava neles.... voltando ao conto.!]

Mas alguém sentada sozinha, perto de minha janela, agachada e singelamente triste achou minha atenção. Maravilhosamente linda e única para mim. Por ela sentia algo diferente, mas percebi que estava faltando algo a ela que não conseguia desvendar o que era. Por causa dela, esqueci que estava paralisado, sem movimentos. Na verdade, era o de menos para mim naquele instante. Só queria realmente trocar palavras com ela, e saber o que acontecia que a deixava tão debilitada. No que eu pudesse a ajudaria.

Depois de tanto admirá-lá, ela me viu. Nisso um sorriso maravilhoso, plenamente lindo e singelo surgiu em seu rosto. Lágrimas começaram a correr por sua bela face, indo de encontro ao pescoço e consequentemente atingindo seus longos cabelos negros. Seus olhos, verdes vivos, brilhavam para mim. Eu estava realizado. Ela entrou em meu quarto e me abraçou como se já me conhecesse. Disse a mim que estava agradecida a Deus que eu consegui acordar. Que com ela tudo iria ficar bem. Eu estava seguro ao lado dela.

Mas gostaria de conhecê-la melhor. Perguntei seu nome, e de imediato o sorriso desapareceu de seu belo rosto. Ela começou a chorar... por minha causa. Não queria magoá-la por não lembrar dela... [talvez caso eu já a conhecesse.... melhor ainda]. Mas eu a queria, e muito. Era minha dádiva. O médico entrou no quarto e ela perguntou por que que eu não lembrava dela. Mesmo que não recordasse daquele rosto, era lindo. Eu estava apaixonado. Loucura.. talvez.. Mas por um instante ficava nítido que eu jamais andaria novamente. Ninguém precisava me falar ou explicar de forma complexa, eu já tinha entendido tudo.

Pedi para a moça me olhar e disse:"Eu posso não me recordar de você... mas assim que a vi... me apaixonei. Quero ficar com você. Espero que me entenda. Espero que me ame, como eu te amo desde o momento que te vi." Ela sorriu novamente daquela forma e disse que já somos casados... temos filhos. Formei de fato uma família com a mulher da minha vida. Eu só queria saber disso. Eu sabia que ela me ajudaria e me daria forças para me recuperar dessa paralisia. Mas de certa forma eu seria eternamente feliz.

Mayara

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