Eu tinha um perfil simples. Humilde e singelo. Gostava de ser discreta. Passar seriedade... eu sabia. Não tive problemas aleios com o meu jeito de ser. Se eu agradava ou não... não me importava. Isso não influenciava na minha vida. Não me dava condições melhores. Muito menos pagava minhas contas e impostos. Não dava a mínima. Eu só queria seguir minha vida tranquilamente, sem dever ninguém. Sem compromisso algum. Eu estava bem sozinha. Me entendia, compreendia. Não precisava de ninguém [até um certo ponto eu achava isso].
Conheci uma pessoa. Inteligente, culta, e interessante. O problema de tudo veio a tona quando eu soube que ele era diferente de mim socialmente. Eu sentia que meu destino se completava com o dele. Mas isso era quase impossível. Sua família vinha da alta sociedade e eu era uma simples doméstica. Não ganhava muito e ele... bom... ele tinha de sobra.
Apesar de tudo isso, eu estava gostando dele. De uma forma sutil e diferente. Não sabia o por que disso. Mas era bom.. e como era. No começo deste conto, relatei que me sentia conformada com a vida que levava até então. Que não precisava de ninguém, muito menos de um homem. Mas agora vejo que estava completamente enganada. Eu forçava em não acreditar no que estava acontecendo comigo, mas meu coração aclamava por algo a mais. Não sabia o que era exatamente se apaixonar, sentir o coração a mil, soar frio e sentir minhas pernas trêmulas por alguém. Isso, na verdade, era indescritível. A partir do momento em que sente.. nada mais lhe importa. Nada mais é visto. Só queria estar do lado dele. Era o homem da minha vida de fato. Eu estava convicta disso.
Depois de um certo tempo, começamos a namorar. Ele sempre muito cavalheiro comigo, elegante, e lindo. Eu, em tese, me sentia um lixo ao seu lado. Eu era pobre.... não tinha nada, muito menos para dar-lhe em troca. Mas sabia que tudo o que ele fazia por mim, tinha sentimento, amor e paixão. Eu era única... ele me valorizava.
Isso até um certo ponto foi se modificando. Ele não atendia mais meus telefonemas, não me retornava, e quando me encontrava, o clima já não soava como antes. Eu não entendia essas atitudes, pensava que tinha algo de errado comigo. Mas... não. Seus parentes eram da alta sociedade. Tinham poder e sangue "azul". Eu definitivamente não era nada. Como pedido de desculpas, ele me chamou para um jantar em sua mansão. Mas... eu não tinha uma vestimenta para essa ocasião. Muito menos capital para isso. Nisso ele me deu de presente um vestido. Era negro e singelamente enfeitado em desenhos discretos na cor prata. Devia ter sido caro.. mas não queria cometer essa desfeita com ele. Percebi que queria minha presença nesse jantar.. que eu tinha que ser valorizada.
Ao chegar lá.. tive uma visão completamente diferente do que imaginava ao longo do caminho até a mansão. As pessoas me olhavam estranho, como se estivessem me examinando. Não me sentia confortável com aquela situação, mas estava de cabeça erguida. Assim que o jantar foi oficialmente foi anunciada, ele me levou a mesa. Cavalheiro como sempre, me acompanhou e arrastou minha cadeira para eu me sentir bem. De longe avistei uma mulher por volta dos seus 80 anos me examinando assim como os outros convidados fizeram logo que cheguei. Me olhava como se estivesse desgostando de minha presença. De fato era isso. Mas continuava ali corajosamente a sua frente.
Nisso ela me perguntou a minha origem familiar. Respondi que eu era doméstica, minha mãe estava debilitada e cuidava de cinco irmãos menores. Depois de minha resposta seu olhar piorou e nisso perguntou se de fato eu possuía alguma herança. Respondi que não, mas tinha meus princípios e principalmente meus valores. Nisso me ofendeu. De uma forma sutil, retribuiu minha resposta dizendo que eu não era feita para sua família, que não possuía sangue "azul" e que não era digna de seu porte. Contudo, me retirei da sala, e voltei para minha casa. Eu esperava uma reação dele, mas ficou calado só escutando. Me senti humilhada, mas me valorizava. Não tinha o que esconder. Não menti. Me sinto bem por isso.
Depois daquela noite nunca mais o vi. Espero que ele tenha encontrado alguém a altura. Eu continuava a seguir minha simples e humilde vida. Era pobre, mas feliz.
Mayara